sábado, 14 de julho de 2012

Nós Não Nascemos Mães, Nos Tornamos Mães Todos os Dias - Ou Não!

Há quase 20 anos nascia mia bella. Aquela criaturinha pequena e frágil mudaria minha vida para sempre. Já houvera mudado muitas coisas desde a notícia de sua chegada, mas nenhuma mudança tão avassaladora quanto as que seguiriam aos seus primeiros gestos.

Depois de longa e ansiosa espera, recheada de percalços, ela finalmente chegara. Trouxera na bagagem muitas novidades. Ser mãe, afinal, não é natural como se pensa. Como lidar com um serzinho pequenino e delicado diante de uma banheira de água morna: 'e se cair?', 'e se engolir água?','e se afogar?', 'o que significa seu choro?', 'porque não consegue dormir?', 'porque não acordou ainda?'. Estas e outras perguntas assombram os dias e as noites também e por melhor que sejam os manuais para 'mães de primeira viagem', em geral, não conseguem suprir todas as dúvida e medos que nos invadem. Eu tinha medo de machucá-la, de não conseguir alimentá-la, de deixá-la dormir demais ou de menos... ainda tenho tantas dúvidas.

Seu sorriso doce e meigo, seus olhinhos, pezinhos, todo o seu ser foi tocando meu coração de um modo que não há palavras que possam explicar. Sua delicadeza e fragilidade, as inúmeras noites mal-dormidas me ensinaram o que é amor. Aquele serzinho miúdo me ensinou a amar, nas primeiras horas comigo. Incomparáveis lições aprendi com ela e sigo aprendendo.

Mas nada se compara ao meu primeiro desespero a seu lado. Sim, ela chorava, chorava, chorava. Havia pelo menos seis horas que chorava. Eu dava o peito, e nada. Dava chupeta, e nada. Balançava, cantava, passeava: nada! Não era fralda molhada, não era fome, não era sono, não era frio, tampouco era calor. Não era barulho, não tinha idéia do que poderia ser. Depois de seis horas de tentativas infrutíveras de fazê-la parar de sofrer e chorar, caí no choro. Chorei copiosamente junto com ela, já não sabia mais o que fazer. Adormecemos juntas, exaustas de um dia inteiro de lágrimas. Nosso primeiro grande momento juntas - na alegria e na tristeza se havia concretizado.

Depois disso, muitas vezes dormimos - à tarde - só nós duas. Nunca antes da música do lobo (...vamos passear no bosque, enquanto seu lobo não vem...).Dormíamos felizes, abraçadas, bem juntinhas. Aquele cheiro gostoso de bebêzinho, aquele carinho inesquecível. Sempre foi uma menina independente, não gostava que lhe apertasse, lhe desse muitos beijos ou mimos. Esperta, inteligente e vivaz, adorava jogos e quebra-cabeças. Observadora ao extremo, olhava atentamente tudo em volta. Era linda - como de fato ainda é.

Veio então novo susto,  uma infecção urinária a fez parecer uma a fome na África. Era pele e osso, minha menina. Foram dias no hospital sem ver a luz do sol, ao lado dela e o coração apertado - pela primeira vez tive medo de perdê-la. Os nervos: à flor da pele. Pressão de todos os lados. A responsabilidade é sempre da mãe. Sobrevivemos juntas a mais aquele desafio.

Fomos muitas vezes à praia. Criança pequena cega a gente [diz a sabedoria popular], desde sempre independente, numa dessas sumiu em meio à multidão do domingo de sol. Pela segunda vez temi - em uma fração de segundos - tê-la perdido. Que nada! Estava no chuveiro arremessando as gotas d'água que caíam em suas mãozinhas infantis.

...E crescia a garota. Foi ela, quem afirmou - categórica - que 'a irmãzinha' dentro da minha barriga era 'o Pedrinho!'. No final, estava mais certa que a ecografia. Nasceu então seu irmão. De repente, diante do bêbe recém-nascido, ela pareceu enorme. Covardia com a pequena, ainda tinha dois anos. Eis a primeira decepção: não percebi prontamente que ela ainda era um bêbezinho. Tempos depois me dei conta, talvez a tivesse magoado pela primeira vez. Era o que dava conta, naquele momento, estava aprendendo a ser mãe. A maternidade, venho descobrindo, é um aprendizado diário.

Foi crescendo a garotinha, mudamos de cidade e descobri - preocupada - que ela verbalizava  sentimentos. Eu a ouvi falando com o patinho de borracha do medo que sentia na nova escola, com os novos amigos [foi lindo e aterrador - fizera a coisa certa?!]. Liguei imediatamente para a dona da antiga escola (Casa da Tia Léa), em quem tinha plena confiança. Horas no telefone sendo carinhosamente ouvida e respeitosamente aconselhada. Aprendi que era muito bom que ela externasse seus sentimentos. Respirei aliviada.

Voltar a trabalhar é um desafio dos tempos modermos, mas quase cinco anos fora do mercado, retomei a trajetória profissional.  Alguns daqueles anos, estive ausente de mim mesma, a maior parte deles, eu diria. Passei a ser ausente dela, tão ausente que não havia mãe no desenho da família. Pela terceira vez chorei, senti-me culpada e triste por não mais fazer parte de seu universo. O trabalho consumia minhas horas e ocupava espaços que não lhe pertenciam, ao mesmo tempo, me fazia [re]constituir como sujeito pleno. Difícil tarefa do ser: Mulher, Mãe, Trabalhadora!

...Mas fomos nos perdendo lentamente uma da outra a partir de então, mas não esqueci nossos momentos lindos, nossos momentos doces. Houve quem dissesse que eles nunca existiram. Mentira! Eles não só existiram, como foram os mais significativos de minha vida, por isso hoje luto para resgatar a poesia que ela me ensinou a entoar com sua chegada angelical. Por ela (eles) busco incessante o caminho de volta para casa, a estrada que leva ao meu coração, o mesmo que acolheu o amor que ela me ensina todos os dias. Nos encontramos agora, em marcha pela igualdade, o respeito às diferenças, a solidariedade, o amor e a liberdade de ser, expressar afetos e desejos.

Amo minha filha, amo meu filho, exatamente como são  e tenho muito orgulho deles.


Texto de Maria Cláudia Canto Cabral, Mãe Pela Igualdade, publicado eu seu blog, o Blog da Maria.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Caleidoscópio - Como é Ter um Filho Gay


Descobrir que uma filha ou filho é homossexual, é como engolir uma pedra, pesa no estômago e se espalha por todo o corpo.  A primeira pergunta é: por quê? Por que isso esta acontecendo com minha filha ou filho? Por que isso está acontecendo comigo? O que a minha família vai dizer? E a gente se sente mais culpada ainda, pois estamos sendo egoístas – 'comigo' é o pensamento.

Esquecemos a personagem principal: a filha ou filho que sempre esteve ao nosso lado se mostra, agora, diferente – ela ou ele é homossexual. Mas pare aqui! O que é ser homossexual? A primeira coisa que nos vem à cabeça é que 'elas e eles' são errados, estão na contra mão do que EU SEI que é certo, afinal, meus outros filhos não são homossexuais então, essa  ou esse jovem não deveria se-lo também.
Ser homossexual assumido implica em se expor para a sociedade, e logo vem o pensamento: tenho que proteger minha ou meu rebento, tenho que protegê-la/o da família, tenho também que me proteger. E começamos um novo caminho de descobertas de um  mundo paralelo. Sim, paralelo, pois estava ao nosso lado desde sempre mas a gente não viu, não nos interessava. E agora que interessa não sabemos por onde começar, mas de alguma forma começamos e encontramos outros iguais nessa busca.
De repente, a vida fica diferente, a gente começa a perceber coisas –sons, cores, pessoas- que nunca tínhamos reparado antes. O que? O mundo mudou? Não, nós mudamos,  e nossa forma de ver o mundo muda com a gente.

Tem a fábula do rei que vai escolher seu conselheiro e põe no centro da sala um rico vaso e diz: Esse é o problema que vocês vão resolver. Todos circulam o vaso e pensam e pensam... até que o mais novo e mais desacreditado dos candidatos  vai lá e quebra o vaso em mil caquinhos. Pronto, foi o escolhido, pois o problema não existia mais. Nossos jovens ao se assumirem homossexuais muito cedo estão resolvendo um problema, pois viver se escondendo é abrir portas pra violência que a sociedade infringe  a cada um em situação marginal pois sua própria família o rejeita. Ao 'quebrar o vaso' e dizer eu sou homossexual o nosso jovem esta sendo muito corajoso, esta dizendo que tem mil e uma qualidades e que é também homossexual, vai fazer dos caquinhos do vaso um lindo caleidoscópio para enfeitar sua vida.
Nessa caminhada desde que se engole a pedra passando pela  quebra do vaso  e fazendo um caleidoscópio, muita coisa muda na nossa vida, se nos permitirmos sermos humanos além de pais, perceberemos que somos feitos do mesmo material que nossos filhos, que também tínhamos um vaso chamado preconceito e, ao quebrá-lo, nos tornamos melhores pessoas. Ao usarmos o caleidoscópio da vida haverá dias de imagens ruins mas na maioria da vezes as formas e cores formadas por essa nova composição de vida será sim muito mais prazerosa.

Eu sou a Marise tenho três filhos e um neto, um de meus filhos não é hetero, qual? Não importa,  essa é a minha família e nós nos amamos e somos unidos e felizes, não é essa afinal a grande meta a ser atingida em todas as sociedades?



Texto publicado de Marise Félix da Silva na Revista Lado A.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Entrevista das Mães na Parada LGBT de Campinas



E as Mães estiveram na Parada LGBT em Campinas! Assista Lilia e Luís Arruda, mãe e filho pela igualdade, em entrevista ao Correio Popular.