segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Meu Filho é Gay e eu Estou Bem!

Estar bem
com o
meu
filho gay
é saber
que criei
um ser
saudável
NEREIDA VERGARA*



A frase do título faz parte de uma brincadeira entre mim e o meu filho de 18 anos, que é gay. Ele sempre diz que vai mandar fazer uma camiseta com essa mensagem, para eu andar por aí, mostrando que se pode ter um filho gay e não ser infeliz. Chegamos a essa conversa depois de fazer uma generalização de que há um grupo grande de pessoas que sempre olha pra mim, a mãe, como alguém que deu à luz uma coisa de outro mundo. Não posso sair de braço com o meu filho, ou ir com ele ao shopping, ou sair para jantar sem que alguém observe e pense: bah, coitada, que esforço está fazendo. Pois aqui, sem nenhuma pretensão de pregar moral a quem quer que seja, digo, posso dizer: eu estou bem.

Há motivos, é claro, para eu ter essa visão. Como não sou cega, sempre vi no meu menino características que não eram comuns nos outros. Desde antes dos três anos, mostrava interesse pelos brinquedos da irmã, por roupas e coisas de menina. Sempre foi sorridente, faceiro e amigo. Na escolinha, fez aulas de balé junto com as meninas (o que me rendeu uma porção de caras feias de pais de outros meninos que achavam que o gosto dele podia "contaminar"). E eu fui assim desafiando a ordem, colocando meu filho em aulas de balé, de patinação artística, de desenho. Nunca proibi que brincasse de Barbie, da mesma forma que não proibi que a irmã brincasse de Power Rangers ou gostasse de álbuns de figurinhas de futebol.

Teve uma época, na pré-adolescência, que meu menino fez o papel do conquistador! Me contava de meninas que havia beijado, teve um grupo de amigos só de meninos (a maioria ainda amigos dele até hoje, e todos héteros, salvo alguma surpresa de que eu não tenha sido informada). Eu ouvia o que ele dizia, me divertia até, mas os meus olhos não me enganavam. Sempre vi a natureza dele, e amei essa natureza. Assim como amo a irmã dele, hétero, linda, rebelde, tatuada, de cabelo raspado, colorido. E eu nunca vi anormalidade em mim ao aceitar isso dentro do meu coração, porque pais aceitam filhos portadores de deficiências, aceitam filhos dependentes químicos, filhos mulherengos, alcoólatras, porque, enfim, são filhos, nasceram de nós.

Estar bem com o meu filho gay é saber que criei um ser saudável, que tem um bom coração, que vai ter respeito por quem amar, pelos filhos que tiver.

Acho que se a gente se preocupasse apenas em enxergar o que está na frente dos nossos olhos já seria um grande passo para que um filho homossexual fosse encarado como qualquer filho. Pois é o que ele é. Nasce assim. Como eu nasci cabeçuda e baixinha e sou muito grata por meu pai e minha mãe terem me amado mesmo assim. Enganar-se a respeito dos outros é uma escolha que a gente faz e a frustração decorrente disso atormenta muitos pais de homossexuais. Não adianta esperar o que não vai acontecer, nem querer que seu filho que gosta de menino case com uma linda moça para fazer a infelicidade de ambos e a sua felicidade.

Quem chegou até aqui na leitura deste texto pode estar pensando: o que essa mulher está pretendendo ao se expor assim e ao expor seu filho? Explico. Sou partidária da ideia de que dizer a verdade em voz alta nos liberta. Sempre tive a certeza de estar protegendo o meu menino, de estar dando a ele o direito de crescer e se desenvolver como a pessoa que ele nasceu. Seria hipócrita da minha parte dizer que o aceito da porta para dentro e ensinar que da porta pra fora deveria ser outro, com base naquilo que a sociedade convencionou como aceitável. Acredito que antes de a gente discutir as camadas de aceitação das pessoas ditas normais às pessoas gays (se são discretos, travestis ou transformistas) ou o direto das pessoas gays (a união homoafetiva, a adoção de crianças, a criminalização da homofobia) em relação aos nossos, os ditos normais, nós, os pais de gays, devemos, enfim, abandonar o tal do armário (estereótipo social dos mais revoltantes).

Quero muito que um dia essa minha visão predomine, que os meus filhos possam ser admirados pelo caráter, inteligência e originalidade, e que os filhos deles, os lindos netos que eu ainda vou ter, vivam num mundo em que a homossexualidade, entre outras milhares de diferenças que nós, humanos, temos, não precise ser uma causa.


*Jornalista
Artigo Publicado no Site Opinião ZH

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Carta Repúdio ao artigo de Veja





Senhor Editor de Veja:
Nós, Mães pela Igualdade, repudiamos o texto‘’Parada Gay, Cabra e Espinafre’’, publicado na edição de 11 de novembro de 2012, e o fazemos no exercício pleno de nossa condição de mães, geradoras de vida, ‘’esteio das famílias’’, como gostam de nos tratar os conservadores. Portanto, na condição daquelas que defendem diretos, vida e  família.
Direito, como bem define Miguel Reale é FATO+VALOR+NORMA. Fato o temos, LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Travestis existem. Valor(es) são vários: dignidade da pessoa humana, igualdade, liberdade, intimidade, ir e vir, segurança, saúde, educação entre outros), faltam apenas as normas, que o Congresso Nacional teima em não votar.
Defendemos a vida DIGNA, para todo ser humano [ou não humano] nascido vivo. Exigimos respeito aos nossos filhos e filhas LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Travestis. Exigimos respeito às nossas famílias, contribuintes do Estado. Exigimosque nossos filhos e filhas e que nossas famílias sejam honradas plenamente, por sermos todxs sujeitxs de direitos.
Somos família, somos célula mater da sociedade. Somos famílias plurais, que como tais acolhem a diversidade e a livre expressão dos seres que a compõem. Nós, as mães, somos genitoras dos humanos e em nossos ventres está a chave da sobrevivência e preservação da espécie.
Os pais, que conosco apoiam filhos e filhas, acolhendo com honra sua orientação sexual, constituem elementos fundamentais não apenas a preservação da vida em sentido estrito – vida no planeta – como também em seu sentido mais amplo: vida digna, com respeito a direitos de todos e todas LGBTH – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Travestis e Heterossexuais. Não aceitamos tal desrespeito e deboche para com nossxs filhxs.
Defendemos os direitos de nossos filhos e filhas, todos, e em especial xs LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Travestis,que:
·         Se casem, como todo e qualquer outro humano adulto;
·         Adotem crianças, antes que as ruas as adotem;
·         Nossas crianças e adolescentes sejam incluídos e acolhidos plenamente na escola;
·         Professores e professoras sejam qualificados para lidar com as diferenças de orientação sexual e de identidades de gênero;
·         A violência física, moral, psíquica perpetrada em razão de orientação sexual ou identidades de gênero seja severamente punida; e
·         Crimes contra a vida sejam agravados quando perpetrados em razão de orientação sexual ou identidades de gênero de suas vítimas.
Não queremos direitos especiais ou privilégios, queremos direitos para nossas famílias e mães são leoas em defesa de suas crias. Nós, Mães pela Igualdade, somos leoas na defesa de nossos filhos e filhas LGBTH – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Travestis e Heterossexuais e exigimos que a revista se retrate na próxima edição, esclarecendo a população que ainda crê nas letras lidas em seu conteúdo, sobre orientação sexual e identidades de gênero.
Por fim, declaramos que a coragem de nossos filhos e filhas LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Travestis de assumir quem são, andando pelas ruas de cabeça erguida é para nós motivo de muito orgulho.
Mães pela Igualdade

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Participação em Eventos



As Mães participaram dia 30/10 de um evento na OAB de Santos (SP), representadas por Edith Modesto, para realizar discussão sobre temas jurídicos relacionados a jovens LGBT's.

Em dezembro, dia 04/12, Georgina Martins quem estará no evento "Por uma UFRJ para Todxs: Identidades LGBT no Ensino Superior" e realizará debate sobre cartografia da violência e atuação das Mães pela Igualdade no hall da reitoria da UFRJ, no Rio de Janeiro (RJ).